terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nádia, a formiguinha

Nádia é uma mulher pequena, não é mais jovem, mas com muita energia. nas suas raras pausas no trabalho (na Estética Canina Adriana) me dá o prazer de dois dedos de prosa. Numa destas fico sabendo a razão porque não para.
Tem hipertireoidismo!
Os lóbulos são duplicados e terá que tomar medicação por toda a vida. O sistema da Adriana é bastante interessante e funciona como uma linha de montagem, onde com 4 pessoas trabalhando se faz o trabalho que vi, em outros lugares, 15 fazerem (já sei o que estão pensando, mas a verdade é que os dois locais usam exclusivamente meus produtos e, portanto não é esta a razão da eficiência). O fato é que há uma sala de banho onde há banheiras de diversos tamanhos diversos e o cão mais manso que frequenta o estabelecimento é um pit bull malhado de branco e preto que sempre me é apresentado pela Nádia (sempre abraçando o cão) como o mais dócil de todos. Tão adestrado é o bichão que a única exigência que faz é esperar o seu banho dentro de uma banheira daquelas de ferro fundido esmaltado onde aguarda mansa e imponentemente seu banho com tudo a que tem direito (beijinho da Nádia também).
Pois bem o reino da Nádia é a sala de banho e, pelo menos 80% dos, animais são lavados por ela. Porque não todos? Aparecem animais com desvio de comportamento e alguns absolutamente fora de prumo a ponto de não aceitarem serem lavados por tão carinhosa banhista.
Este era o caso de Brad. Um Shi Tzu dourado com uma pelagem abundante que durante uns quatro anos não deixava que a Nádia o tocasse. Não obstante a Nádia apregoava a todos que amava aquêle cachorro. Há uns três meses, surpreendemente, o Brad parou de rejeitar a Nádia e adivinha! Só ela que dava banho nele. O mês passado estava lá e um dos groomers me mostrou que havia nódulos na região das glândulas ad anais e também no abdomen na proximidade dos genitais. Eu não sou clínico  e a recomendação foi que encaminhasse a um. O pior se confirmou. Era um tumor muito agressivo e o Brad tomou mais um banho antes de vir a óbito. A Nádia ficou inconsolável pois justo agora que ele conseguia se dar bem com ele! Enquanto escrevia me ocorreu que na verdade o Brad queria se despedir dela em grande estilo. Antes era a rabugice dos brutos que também amam (mas não querem demonstrar).
A Nádia continua a mil por hora e é sempre a última a largar do batente e depois pedala sua velha bike, para cuidar da mãe velhinha, do marido adoentado e da gata persa que ganhou da Adriana. Benza Deus!
A má notícia é que a Nádia sucumbiu ao abcesso que tinha nos gânglios axilares, que teimosamente recusava tratamento, que evoluíram para septicemia. Fiquei sabendo às 14 horas. às 18 horas quando cheguei ao velório, não havia mais nada. Ainda não me acostumei com a velocidade com que transcorrem o féretros na baixada santista. Talvez seja melhor assim porque a penúltima lembrança que tenho da Nádia foi a que escrevi. A última foi quando a vi percorrendo a ciclovia com a rapidez característica e ela nem me viu.